A Praça

A Emigração e os Emigrantes fazem parte da Ribeira Grande desde sempre. Atento a este fenómeno, o Município quer viver de braço dado com todos os que partiram, por opção ou por necessidade, mas não se esquecem da terra natal. Acolhemos a sede da AEA-Associação dos Emigrantes Açorianos, uma ponte entre a Diáspora e a terra-mãe.

Já tínhamos erguido o Museu da Emigração Açoriana, um espaço de memória, história e cultura da nossa Diáspora. Estamos na linha da frente, mas faltava uma homenagem em grande a todos os Emigrantes. Chega com esta imponente Praça do Emigrante, um espaço amplo, onde queremos que todos sintam o orgulho e o carinho que temos pelos nossos Emigrantes.

O centro da Praça do Emigrante é ocupado pela peça de arte pública Saudades da Terra, a mesma expressão que Gaspar Frutuoso – o nosso primeiro Emigrante ilustre, filho da Ilha de São Miguel e vigário da então vila da Ribeira Grande – utilizou no século XVI, para resumir um sentimento maior, comum aos Emigrantes. A obra é dedicada a todos os Ribeira-grandenses e Açorianos que, ao longo destes séculos, sentiram saudades da terra.

ALEXANDRE BRANCO GAUDÊNCIO
Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande

PROJETO ARQUITETÓNICO

A Praça do Emigrante apresenta um desenvolvimento com ligeiro pendente na direção Sul/Norte, respeitando a topografia existente, no sentido de minimizar-se o movimento de terras necessário à execução deste equipamento público, materializado segundo um pavimento único executado em calçada portuguesa do tipo joga com variações cromáticas baseadas no esquema gráfico apresentado nas peças desenhadas, cujo limite sul coincide com o lancil que separa o passeio atual e a faixa rodoviária, e limite norte representado pelo muro de pedra existente, prevendo-se nesta zona uma área ajardinada que permitirá a criação de uma faixa de segurança entre o espaço pavimentado acessível e o alinhamento do muro limite, o qual apresenta um desnível significativo em relação aos terrenos vizinhos, situados a norte. O pavimento fica sobre uma base de assentamento rígida, por forma a garantir o acesso a veículos de manutenção e limpeza ao espaço público, assim como veículos de emergência. A solução de desenho urbano adotada prevê ainda a execução de dois alinhamentos arbóreos que ladeiam a praça, implantados sobre caldeiras de desenho circular, executadas com uma banda de aço assente sobre uma fundação de betão. A zona norte da Praça contempla dois alinhamentos de peças de mobiliário urbano que configuram simultaneamente um banco contínuo e um espaço posterior destinado à gravação de inscrições referentes aos donativos e contributos da comunidade emigrante açoriana que apoiam a concretização do monumento em homenagem ao Emigrante. Estas estruturas são executadas em betão pré-moldado para revestir a lajetas de pedra de basalto, constituindo uma zona de estadia e de contemplação sobre a frente marítima, tirando-se partido do enquadramento paisagístico de elevado interesse que daí se obtém. O projeto arquitetónico ficou a cargo da empresa M-arquitectos

PEÇA DE ARTE PÚBLICA SAUDADES DA TERRA

O MUNDO NA ILHA A ILHA NO MAR
O MAR A LIGAR TODOS OS AÇORIANOS ESPALHADOS PELO MUNDO

Um globo, representando a Terra, com 4 metros de diâmetro, revestido por calçada portuguesa (calcário branco e negro do Continente português).
As Ilhas dos Açores figuram numa escala maior em relação às restantes terras.
O planeta Terra é também o nosso cantinho. É onde todos vivemos e, apesar de ser grande, é pequeno para os sentimentos humanos.

O globo assenta numa pedra de basalto negro, representando a Ilha, com 1,4 metros de altura e 3,5 metros de diâmetro, com forma irregular. A pedra simboliza a Ilha, as Ilhas os Açores.

O desenho do piso da área envolvente tem 10 metros de diâmetro e é da autoria do artista Luke Marston, pertencente ao povo Salish, da Ilha de Vancouver, no Canadá.
O desenho já faz parte de uma peça de arte pública desenvolvida por Luke Marston para honrar os seus antepassados, incluindo Portuguese Joe Silvey (José Simas), um baleeiro, um aventureiro, um pioneiro e, para os seus muitos descendentes, um homem de família.
As ondas do mar que se entrelaçam simbolizam as que batem na costa das Ilhas dos Açores e as que batem na costa de todos os continentes e ilhas onde param Açorianos.
A utilização deste desenho no Projeto Saudades da Terra foi muito gentilmente oferecida por Luke Marston, em reconhecimento do apoio que várias entidades Açorianas deram ao projeto Shore to Shore.


A peça fica implantada no centro da Praça do Emigrante, com área aproximada de 4.000 m², localizada em frente ao Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na cidade da Ribeira Grande, Ilha de São Miguel, Açores. Entre a zona de praia e a Praça e o Centro não há obstrução visual, a fim de destacar a peça, a Praça e o mar.
O piso da Praça simboliza o mar, executado em calçada portuguesa branca.

DESENHO MARCADO POR LINHAS ONDEADAS E CÍRCULOS NUMA EXTENSÃO DA PRAÇA DO EMIGRANTE

As ondas quebrando, uma a uma, as grandes vagas dos mundos desejados, numa ânsia tantas vezes carregada do impossível, como se o tempo fosse feito de demoras, em círculos, viajando sobre a agonia desse mundo vago, na aproximação sem fim de novos horizontes, dos sonhos que sonharam ter, e neste emaranhado de círculos ou globos está uma alusão clara da hélice do ADN, onde o bater do coração que sustenta o ritmo dos Emigrantes se funde com aqueles que irão passar por cima desta calçada.

Calçada dos Mundos, embora não tivesse sido a minha primeira escolha, foi a opção mais votada aquando da apresentação dos vários esboços na Câmara Municipal da Ribeira Grande e, daí, toda a recolha que já tinha feito, provisoriamente, serviu como base para o desenvolvimento do projeto.

O contributo da informação para a realização do trabalho: compreender, analisar, olhar, apreciar e, acima de tudo, SENTIR, porque a finalidade e o objetivo do trabalho eram, essencialmente, os sentimentos dos Emigrantes, mas também o envolvimento do espaço com outros artistas plásticos e arquitetos, que se traduzisse numa harmoniosa combinação, sem choques de estilos diversos e nunca esquecendo a responsabilidade da proximidade ao Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas.

Sabendo de antemão que iríamos fazer uma praça em calçada tipicamente portuguesa, o material estava automaticamente escolhido e, como é óbvio, em calcário ou, eventualmente, basalto, muito mais difícil de manejar. Inúmeros esboços foram feitos até se conseguir o efeito do movimento que pretendia, de círculos que nos lembrassem mundos verdadeiros e hipotéticos, das ondas em movimento, a espuma saltitando e, até, a espiral do ADN, ADN açoriano.

O resultado foi traduzido numa área de 1.300 metros quadrados, começando no passeio junto à Praça do Emigrante, invadindo esse território com “mundos” intercalados de pedra preta e branca, com 18 diâmetros que variam dos 20 até 190 centímetros, salvaguardando o espaço da escultura principal da Praça, que é o Mundo, apresentado por Luís Silva. Nesta fase de trabalho, com uma amostra técnica muito mais elaborada, através de computorização e não só, contei com a colaboração do Arq. Fernando Monteiro e do estudante do 4.º Ano de Arquitetura Gonçalo Lopes.

Apesar de não ser este o desenho da minha primeira opção, sinto-me satisfeita e estou convicta de que consegui o meu objetivo: as emoções, o movimento das ondas que vão rolando sem parar, o dramatismo das cores brancas e pretas, criando um espaço onde as crianças irão gostar de brincar e os adultos vão pensar. Muito contribui para isso a boa vontade existente em todos os intervenientes deste projeto.

A Equipe

Luís Silva (Conceção artística)
Luiz Gonzaga Pereira (Projeto de construção)
Liliana Lopes (Calçada dos Mundos)
Rui Faria (Presidente AEAzores)
Fernando Monteiro (M-Arquitectos)
Louis Borges (Apoio Técnico)
Carlos Meneses (Calceteiro)

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